Por Rubens Alves*
Venho acompanhando atentamente os desdobramentos inéditos no PT de Dourados. Inéditos, por que por mais que algumas das suas principais lideranças públicas venham a algum tempo fazendo um forte deslocamento a uma política cada vez mais distante da esquerda, ou mesmo petista, o histórico do PT douradense não tem paralelo com o que vem sendo proposto neste momento.
Estou me referindo, é claro, a defesa bancada por algumas das principais figuras públicas do partido na cidade (o recém eleito deputado Laerte Tetila, o ex-deputado João Grandão e o vereador Dirceu Longhi). Patrocinados, segundo o jornal o correio do estado, por alguns da bancada federal petista.
Os argumentos para justificar a façanha são os mais variados possíveis. Desde afirmações estilo: “que o PT ocupando espaços no governo do DEM acumulará força para as próximas eleições”, até mesmo a citação de erros já cometidos pelo partido ou grupos, frases prontas (que outrora era utilizada pela direita para estigmatizar o PT junto à sociedade) são lançadas contra os petistas que não concordam com a proposta: “precisamos pensar grande e não podemos ser radicais e extremistas”.
O PT cresceu e se transformou em um dos mais fortes e respeitados partido de esquerda no mundo, com os pés bem presentes na organização social, a luta eleitoral articulada com a luta política e a ideológica, com presença no debate de idéias, expressando valores e visão de mundo. Infelizmente alguns setores e lideranças, resumiram e empobreceram a sua ação exclusivamente a dimensão eleitoral, abrindo mão de todas as demais. Não é por acaso, que após oito anos de uma rica experiência administrativa, o PT de Dourados saiu derrotado politicamente das urnas, e parte de suas principais lideranças consumidas pelo pragmatismo estreito e sem limite.
Este rebaixamento político, programático e ideológico é conseqüência deste fenômeno mais geral. E é por isto que alguns petistas passam a considerar natural um partido como o PT, de esquerda, de característica populares e democráticas, se aliar com outro de características totalmente opostas: de direita, conservador e reacionário.
O subproduto deste processo é isto que estamos presenciando: lideranças que não apostam mais na luta política como fator de fortalecimento dos partidos e de mudanças da sociedade, optando por “facilidades” tão tradicionais e comuns na velha cultura política brasileira: negociar espaços nas esferas públicas, que neste caso em tela, significa secretarias, vice, e possivelmente acordos presididos por fortes interesses individuais para 2014, e por aí vai…
Mas vamos direto ao ponto. Segundo os nossos companheiros petistas pró DEM, o momento é de grandeza política, portanto devemos participar do governo de coalizão para “salvar” Dourados da crise que se encontra; uma espécie de “todos unidos e irmanados por Dourados”. Cá entre nós: politicamente chega ser patético! Será que salvará mesmo? Mas salvará quem? O povo douradense? Salvará do que? E de quem? A história esta cheia de exemplos: toda vez que os acordos de cúpulas acontecem, o resultado é um só: ELES SE SALVAM – e o povo se arrebenta!
Neste momento cabem três perguntas: Por que a coalizão não pode se dar em torno de um candidato de um outro partido, como por exemplo o PT? O DEM possui mais legitimidade do que o PT? O DEM de Dourados esta imune a tudo que vem sendo explicitado na operação Uragano? Os seus quatro vereadores passaram ilesos das denuncias?
Mas vamos mais além. O DEM ex-PFL já conhecemos suficientemente: mudou de nome para tentar, com uma espécie de verniz, rejuvenescer a sua imagem já carcomida, que conquistou graças a sua política truculenta e de extrema direita. E o seu candidato? Pelo que eu saiba um empresário do ramo da educação. Pois bem, os problemas já começam aqui, pois enxerga e se relaciona com a educação como meio de acumular capital, portanto mercadoria. Muito diferente do compromisso histórico do PT que sempre lutou para que educação (como saúde, cultura entre outros) seja um direito básico e universal, garantido pelo Estado a toda a população de forma gratuita e com qualidade. Isto significa concepção de estado e visão de mundo muito diferente!
E como deputado, qual foi o seu desempenho? Pelo que eu saiba, tanto como estadual, quanto federal seu desempenho é pífio e apagado. E como vice-governador, nos quatro anos? Sinceramente: não disse pra que veio! Foi uma figura nula, sem expressão, bastante leniente e servil ao atual governador, mesmo quando ele era vítima de posições autoritárias e truculentas.
Parece-me, também que os petistas pró DEM, se esqueceram, ou não entenderam, o que ocorreu nesta eleição nacional a menos de dois meses. Será que a disputa tão intensa e agressiva, não passava de encenação e teatro? Os nossos companheiros do PT podem até não ter entendido, mas a direita em Dourados (do DEM, PSDB etc) tem consciência e sabe claramente o que estava em jogo e que ela representa setores sociais distintos aos do PT; sabe que as disputas que estamos travando não se resumem a dimensão eleitoral, basta reler abaixo parte do texto da resolução aprovada pela Executiva Nacional do DEM, em 2008, proibindo aliança com O PT: “considerando a notória divergência programática e política entre os Democratas e o Partido dos Trabalhadores – PT;
Art. 1°. Fica vedada a formalização de coligação para a eleição majoritária municipal em apoio a candidatos do Partido dos Trabalhadores – PT. Como se vê o DEM tem total clareza das imensas diferenças ideológicas entre as duas forças. Porém, é claro, se o PT capitular e aceitar “jogar água no moinho deles” tudo bem, eles aceitam serem apoiados!
Será que de fato participar de um tipo de alianças como esta significará acumular forças para o PT? Todos sabem que a principal tarefa do prefeito eleito agora em fevereiro, será se reeleger em 2012, portanto isto também significará o PT ter candidatura própria em 2012. E em 2016, será possível? Se levarmos em conta que após oito anos de administração, a política que hegemonizou o PT douradense o levou a uma dura derrota em 2008, como acreditar que após seis anos de gestão com os DEMOS, ao invés de aprofundar e ampliar a cooptação destes setores do partido, ao contrário, ele se revigorará, resgatando seu papel protagonista na cidade? Nem mesmo os mais otimistas, por mais que se esforcem, conseguirão acreditar nesta possibilidade.
Parece-me que a tal aliança cumpre apenas um papel: de atender projetos individuais de figuras do PT de Dourados de outras lideranças em nível estadual. Me chama atenção também o fato que as principais lideranças do dois grupos que estão defendendo a aliança com o DEM, são as mesmas que recentemente, na última disputa interna petista, no ano passado, se degladiaram de forma muito dura e intensamente pela direção do partido no município, protagonizando uma verdadeira “guerra” pelos votos dos filiados. A pergunta que é necessária responder ao conjunto dos filiados que inclusive majoritariamente os apoiaram é: o que de fato estas lideranças estavam disputando nas eleições internas passadas? Quais as divergências políticas de fundo entre estes dois grupos? Parece-me que o alinhamento político delas, neste atual episódio, ou seja, pró DEM, demonstra que de fundo não existia e nem existe nenhuma divergência política ou ideológica; a disputa de 2009 se resumia estritamente ao aspecto eleitoral e ao aparelho partidário. Ainda bem que nestas duas chapas, vários dos militantes que fizeram parte vêm demonstrando uma importante lucidez política e se posicionando de forma contrária.
Esta talvez seja a significativa nota positiva deste episódio do PT em Dourados: a resistência da militância, demonstrando muito mais lucidez que parte dos seus dirigentes. Esta é a contradição que vale a pena apostar, e que demonstra que o PT é muito maior do que qualquer liderança individualmente. Quando os seus líderes perdem as suas referências, cabe a base militante derrotá-los e retomar a construção do novo, reatando os laços da sua organização partidária com os seus compromissos e bandeiras de lutas e com a sua própria história.
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