Sobre a visita de Barack Obama ao Brasil. Direção Nacional da Articulação de Esquerda, tendência interna do Partido dos Trabalhadores


A visita de Barack Obama, Presidente dos Estados Unidos, ao Brasil, será uma oportunidade para que o governo Dilma reafirme nossas posições em favor de uma nova ordem mundial, baseada no desenvolvimento, na paz, nos direitos humanos e no respeito à soberania e autodeterminação dos povos.

Será, também, uma oportunidade para que a sociedade brasileira manifeste sua opinião acerca da política estado-unidense. Manifestação que pode e deve ser distinta da feita pelo governo, até porque aprendemos com a história passada e presente quão desastrosas resultam as tentativas de subordinar movimentos e partidos aos governos.

Neste sentido, saudamos as manifestações de partidos de esquerda, movimentos sociais e setores progressistas em geral, em favor do imediato fechamento da prisão em Guantánamo, da suspensão do bloqueio contra Cuba e pela revisão das leis de imigração nos Estados Unidos, que tanto prejudicam os imigrantes que buscam aquele país por melhores condições de vida.

Reiteramos, também, nosso repúdio às guerras promovidas pelos Estados Unidos no Afeganistão e no Iraque, bem como às ameaças de invasão da Líbia.

Denunciamos ainda, como inimiga da paz mundial e da democracia, a postura do governo Obama, que deu apoio efetivo para os golpistas em Honduras, continua espalhando bases militares pelo continente, inclusive junto às fronteiras da Amazônia. Igualmente contestamos o renascimento da IV Frota.
Da mesma forma como fizemos quando da visita do então presidente George W. Bush, os militantes petistas participarão das atividades convocadas pelos movimentos sociais, em defesa de nossas posições e contra as políticas do governo e da mídia dominante dos Estados Unidos, que expressam os interesses de poderosos grupos econômicos transnacionais.

Direção Nacional da Articulação de Esquerda, tendência interna do Partido dos Trabalhadores

Trágico é ser um tucano de esquerda – Valter Pomar

Por Valter Pomar

O professor Luiz Carlos Bresser-Pereira é um dos fundadores do PSDB, foi ministro de FHC e tudo o mais. Mas seus textos (pelo menos os mais recentes) situam-no no lado esquerdo da tucanagem.
Aliás, um paradoxo: de certa forma, o PSDB atraiu parte da antiga esquerda do PMDB. Claro que na época da ruptura, um dos motivos apresentados foi a corrupção e o fisiologismo do PMDB, especialmente de Quércia. Mas se voltarmos no tempo, veremos que o ponto de clivagem foi o balanço do Plano Cruzado. Alguns setores do PMDB, mais exatamente de sua esquerda, fizeram um balanço crítico do Plano Cruzado, que resultou na adesão a várias teses monetaristas e ortodoxas.
Haveria muito que dizer sobre aquele debate. Mas o que mais me chama a atenção, olhando retrospectivamente, é o pessimismo. O mesmo pessimismo, negativismo, quase niilismo, que tomou conta de setores da então ultra-esquerda do PT, que impactados pela crise do socialismo, acabaram mudando de lado.
Um exemplo deste negativismo está num dos textos mais recentes de Bresser, intulado A tragédia dos povos pobres, que Página 13 reproduz mais abaixo. Nele, Bresser diz o seguinte:
1) as revoluções são sempre realizadas pelo povo, mas, muitas vezes, ele é, no fim das contas, derrotado;
2) nunca as esperanças maiores do povo são efetivamente realizadas;
3) apesar disto, o povo avançou em cada uma das revoluções ocorridas no mundo, exceto na soviética.
Tirante o preconceito, é difícil de entender por quais motivos Bresser considera que o povo não avançou na revolução soviética.
Mas o mais interessante são os três corolários de sua argumentação:
4) os povos que estão se revoltando só serão vitoriosos se os novos governos forem capazes de conduzir seus países à revolução nacional e capitalista e, portanto, ao desenvolvimento;
5) Mas, para isso, falta a esses povos uma sociedade civil forte como existe nos países ricos e nos países de renda média. A pobreza e o baixo nível de educação são obstáculos para atingir isso;
6) A alternativa é contar com um líder comprometido moralmente com a população.
Ou seja: o capitalismo é o objetivo final; os setores médios são a chave da vitória; e nos países pobres, é preciso um líder.
Totalmente didático. Que do lado de cá se diga: o socialismo é o objetivo final; as classes trabalhadoras são a chave da vitória; e quanto mais desorganizada for a sociedade, mais imprescindível é a presença de um partido.
Segue o texto:

A tragédia dos povos pobres

Por Luiz Carlos Bresser-Pereira (27/02/11)
As revoluções são obra do povo, mas, com base na história, suas esperanças jamais são confirmadasAs revoluções sãosempre realizadas pelo povo, mas, muitas vezes, ele é, no fim das contas, derrotado. Faço essa afirmação pensando no que acontecerá depois das revoluções na Tunísia e no Egito, e do banho de sangue que está acontecendo na Líbia. As revoluções podem ser revoltas contra o “antigo regime”, como o foram a Revolução Francesa de 1789 e a russa de 1917, ou podem ser revoluções de união nacional, como foram as revoluções de Bismarck na Alemanha e a de Garibaldi na Itália, ou podem ser revoluções de libertação nacional como foram a de Gandhi e Nehru, na Índia, e a de Mao Tse-tung, na China. Há ainda as revoluções de afirmação nacional, como foi a Revolução Mexicana de 1910.

Mas quando o povo é, afinal, vitorioso nessas revoluções? Não é fácil responder a essa questão. Nunca suas esperanças maiores são efetivamente realizadas. Ao mesmo tempo, é impossível negar que o povo avançou em cada uma das revoluções que eu citei acima, exceto a soviética.
Deixemos, porém, grandes revoluções de lado e pensemos nas revoluções nacionalistas nos países em desenvolvimento -nas bem sucedidas como a de Kemal Atatürk na Turquia, em 1922, ou a de Getúlio Vargas no Brasil, em 1930, e no grande número de revoluções que, afinal, fracassaram. A grande tragédia dos povos pobres, como são os povos do Oriente Médio que estão se revoltando, é que eles só serão vitoriosos se os novos governos forem capazes de conduzir seus países à revolução nacional e capitalista e, portanto, ao desenvolvimento.
Mas, para isso, falta a esses povos uma sociedade civil forte como existe nos países ricos e nos países de renda média. No Oriente Médio, muitas revoluções de libertação ou de afirmação nacionais foram realizadas, mas poucas vingaram. Algumas foram simplesmente esmagadas pelas potências imperiais, como foi o
caso da revolução de Mossadegh no Irã, em 1955, ou de Nasser, no Egito, em 1967.
Outras, localizadas no extremo oposto, não vingaram porque o político ou o militar vitorioso logo se associou às potências imperiais e às elites locais corrompidas e também se corrompeu. Foi o caso, por exemplo, de Ben Ali na Tunísia ou de Saddam Hussein no Iraque. Outras ainda, como é o caso da revolução na Líbia de Gaddafi, inicialmente pretenderam ser libertadoras de seu povo, e, por isso, encontraram forte oposição das potências ocidentais, mas também dele se desligaram e se corromperam, sendo então seus dirigentes aceitos pelas potências ocidentais.
Existe solução para esta tragédia dos povos pobres? Sim, mas o caminho é difícil. Eles são fortes no momento da revolução, quando se mobilizam e, muitas vezes, se tornam heroicos, como estamos hoje vendo no Oriente Médio. Mas depois perdem coesão e abrem espaço para o domínio das velhas elites e dos interesses estrangeiros. É preciso que cada povo se constitua em nação e logre fazer valer sua vontade nacional, mas a pobreza e o baixo nível de educação são obstáculos para atingir isso.

A alternativa é contar com um líder comprometido moralmente com a população, mas tal situação depende da sorte ou da fortuna -uma deusa amada, mas com a qual não podemos contar.

Via: pagina13.org