Noroeste Paulista – Prefeitos do DEMONOTUCANOS são os que mais enriqueceram no cargo em 4 anos

Allan de Abreu

Casa de Edmur Pradela, de Bady, até o início da gestão; o imóvel onde ele mora hoje

Fotos: Hamilton Pavam

Nos últimos quatro anos, pelo menos 14 prefeitos da região de Rio Preto candidatos à reeleição mais do que dobraram seus patrimônios pessoais. Nesse período, trocaram casas humildes por imóveis imponentes, abriram empresas, dispensaram veículos velhos e adquiriram possantes máquinas zero quilômetro. No total, 32 prefeitos que buscam um novo mandato engordaram o patrimônio em R$ 16 milhões em quatro anos. Os dados constam da declaração patrimonial que todo candidato é obrigado a fornecer à Justiça Eleitoral. Muitos dos prefeitos candidatos a um novo mandato já eram ricos quando venceram as eleições de 2008, e desde então só aumentaram seu patrimônio já vasto.

Mas há casos que chamam a atenção. Em Bady Bassitt, o atual prefeito, Edmur Pradela (PMDB), declarou patrimônio de R$ 228,8 mil há quatro anos. Desde então, trocou uma casa humilde na rua Antonio Santana Branco, que pertencia à mulher dele, por uma residência imponente na rua Joaquim Moraes. Também adquiriu uma luxuosa caminhonete Tucson e dois lotes em condomínio fechado de Sales.

As novas aquisições fizeram seu patrimônio crescer 181%, para R$ 643,9 mil. Uma diferença de R$ 415 mil. O salário bruto de prefeito em Bady é de R$ 6 mil, o que, somado aos quatro anos de mandato, chega a R$ 288 mil. Edmur atribui a variação patrimonial à venda de um sítio de 24 hectares do seu avô por R$ 500 mil, e a trocas de veículos e imóveis. “Trabalho muito, faço meus negócios. Por isso tenho alguma coisa”, diz. Ele é dono da Borboleta Comércio de Veículos, em Bady, que, apesar de ter sido aberta em 2007, não consta de sua declaração de 2008. “Devo ter esquecido”, alega.

A maior variação foi do prefeito de Neves Paulista, Ilso Parochi (PSDB). Em 2008, quando eleito, declarou ter apenas uma motocicleta de R$ 4,5 mil. Agora, Parochi afirma ter uma caderneta de poupança de R$ 10 mil, um veículo de R$ 45 mil, financiado, e uma carteira de previdência privada de R$ 15 mil. Um total de R$ 70,1 mil, ou 1.457% a mais. “Era padre, então, logo que larguei o sacerdócio, há dez anos, tive de recomeçar do zero”, justifica. Antes de ser prefeito, Parochi lecionava filosofia na rede pública. O salário de prefeito em Neves é de R$ 5,5 mil, bruto. “A oposição usa essa diferença para me criticar. Mas a base de aumento é muito pequena.”

O prefeito de Olímpia, Geninho Zuliani (DEM), teve acréscimo de 224% nos seus bens. Se em 2008 ele declarou R$ 54 mil, incluindo computador, TV e videocassete, neste ano informou ter R$ 175,1 mil. Na atual gestão, ele abriu uma distribuidora de bebidas, uma empreiteira (que ele afirma existir só no papel) e um apartamento vizinho ao parque Termas dos Laranjais. “Esse crescimento é perfeitamente compatível com a minha renda. Está tudo devidamente declarado à Receita”, diz Geninho, que tinha uma empresa de locação de equipamentos antes de assumir a prefeitura.

Outros prefeitos engordaram suas contas bancárias nesses quatro anos de gestão. Herley Torres Rossi (PDT), prefeito de Paulo de Faria, tinha R$ 254,6 mil em bens em 2008. Agora, seu patrimônio declarado subiu 202%, para R$ 769,4 mil – diferença de R$ 514 mil. Somado, o salário bruto de prefeito de Paulo de Faria atinge R$ 432 mil. Rossi tem R$ 312 mil em duas cadernetas de poupança e R$ 141 mil em quatro contas correntes. Também adquiriu dois carros, em 2009. Ele justifica o crescimento pelas suas outras fontes de renda. “Sou agente fiscal aposentado, e tenho gado em confinamento”, afirma.

Divulgação
Com R$ 34 milhões, Izair diz que não é rico: “Sou remediado”

Em Buritama, um dos candidatos mais ricos do Estado

Dos 2 mil candidatos a prefeito no Estado de São Paulo, ele é o quarto mais rico. Izair dos Santos Teixeira (PPS), prefeito de Buritama que busca um novo mandato, declarou à Justiça Eleitoral bens avaliados em R$ 34 milhões. É pouco menos do que o Orçamento da prefeitura que ele administra – em 2011, Buritama teve receita de R$ 36,5 milhões. Teixeira coleciona 31 casas e terrenos, em Buritama, Rio Preto, Araçatuba e Campo Grande (MS), e 26 propriedades rurais, incluindo a fazenda Santa Cruz, em Vila Bela da Santíssima Trindade (MT), com 26 mil hectares.

Na fazenda, que conta com pista de pouso regulamentada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), estão 21,6 mil cabeças de gado e 368 cavalos. É mais do que a população inteira da cidade que Teixeira administra: Buritama tem 15 mil habitantes. Há ainda um avião Cessna que Izair usa para, uma vez por mês, ir à sua fazenda, lancha, jet ski e duas caminhonetes.

Apesar de tantas terras, o prefeito não se considera rico. “Sou remediado.” “Só sou rico em saúde, graças a Deus.” Mas a oposição não pensa assim. “Ele deixou de colocar o valor real dos bens dele. A indústria de cerâmica e a transportadora declarou por R$ 139 mil, mas aquilo vale mais de R$ 100 milhões”, diz Marcos Antonio Mendes (PTB), adversário na disputa. O Ministério Público investiga o caso: o promotor João Paulo Serra Dantas solicitou a declaração de Imposto de Renda de Teixeira para comparar com a relação entrega à Justiça Eleitoral.

Hamilton Pavam
Cerâmica que garantiu a fortuna de prefeito: um dos muitos bens

Fato é que, antes de assumir o atual mandato, Teixeira já era rico. Em julho de 2008, declarou ter R$ 1,5 milhão, mas três meses depois entregou uma retificação, apresentando nova lista com patrimônio de R$ 29,1 milhões. O crescimento patrimonial de R$ 4,9 milhões na atual gestão se deve à aquisição de mais quatro fazendas em Mato Grosso, que somam 3,6 mil hectares, segundo o administrador do bens do prefeito, Valdemar Ribeiro de Oliveira.

Teixeira nasceu em família humilde de Buritama. Até que, aos 24 anos, montou uma pequena cerâmica na periferia da cidade, a Santa Cruz. Com a empresa, fez fortuna, principalmente a partir do fim dos anos 70. Hoje, a indústria ocupa uma quadra inteira, e chega a exportar telhas para os países do Mercosul.

Mais rico do que ele na disputa deste ano em São Paulo, apenas três empresários: João Batista de Andrade (PSDB), candidato à Prefeitura de Pitangueiras, com patrimônio de R$ 60 milhões, José Pedro Toniello (PTB), que disputa a Prefeitura de Nova Independência, região de Presidente Prudente (R$ 56,6 milhões), e o também empresário Cunha Lima (PSC), candidato à Prefeitura de Praia Grande (R$ 40 milhões).

Rubens Cardia
Vilar perdeu 85% de seus bens

Há os que empobreceram

Vinte prefeitos candidatos à reeleição na região ficaram mais pobres nos últimos quatro anos. Alguns perderam tudo, caso do chefe do Executivo de Indiaporã, Fernando Cesar Humer (PSB). Em 2008, ele declarou ter uma Parati 1996, dois reboques e uma carroceria de caminhão. “Era tudo financiado. Não dei conta de pagar, e o banco tomou”, disse. O prefeito de Irapuã, Oswaldo Alfredo Pinto (PMDB), tinha um Gol 2004 avaliado em R$ 22,6 mil. Agora, não tem bens declarados.

Em Pindorama, a prefeita Maria Inês Bertino Myiada (PSDB), tinha um veículo Gol 2005 e uma casa no Centro da cidade, avaliados em R$ 201 mil. Agora, só declarou o carro. A casa, segundo ela, foi transferida para o nome da mãe. Até o Gol foi vendido recentemente. “Vou sair (da prefeitura) mais pobre do que entrei. Prefeita honesta é assim”, disse.

Luiz Vilar (DEM), que tenta a reeleição em Fernandópolis, teve seu patrimônio reduzido em 85%, de R$ 949 mil para R$ 142,3 mil. Odair Vazarin (PSD), de Guarani d’Oeste, deixou de ser milionário à frente da prefeitura. Em 2008, declarou ter R$ 1,1 milhão em bens. Agora, informou bens que somam R$ 300 mil. Procurados, não foram localizados na última semana.

Do nada

Dois prefeitos declararam não ter patrimônio em 2008, e agora exibem bens. É o caso da prefeita de Parisi, Gina Mara Pastreis (DEM), que informou, na declaração atual, ter R$ 322,5 mil em bens – uma casa de R$ 250 mil, uma moto de R$ 7,5 mil e um caminhão de R$ 65 mil. O salário bruto de prefeito na cidade é de R$ 5,8 mil, o que, em quatro anos, soma R$ 278,4 mil. “Recebi a casa de herança do meu pai”, diz Gina.

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