Lula ironiza FMI e fala em ‘saída política’ para crise na Europa

Daniela Fernandes
De Paris

Lula e Sarkozy, em Paris. AP
Lula foi recebido por Sarkozy nessa segunda-feira em Paris

O ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva fez ironias nesta terça-feira, em Paris, com os países ricos e instituições internacionais, e afirmou que a saída para a crise na Europa “está em um decisão política”.

Lula fez referência aos “conselhos econômicos” dados ao Brasil no passado e afirmou que os países desenvolvidos agora são incapazes de resolver seus próprios problemas.

“Eu vi tanta gente sabida na Europa e nos Estados Unidos quando o Brasil, a Bolívia e o México estavam em crise”, disse Lula em um discurso no Instituto de Ciências Políticas de Paris, onde recebeu o título de doutorhonoris causa.

“Era tanta conselho econômico que, quando começou a crise em 2008, eu falei que os especialistas resolveriam isso em três dias”, afirmou.

“Eles (os especialistas econômicos) se esconderam. O Banco Mundial, o FMI, a Comissão Europeia, ninguém sabia mais nada. Mas essa gente toda sabia quando era o meu calo que estava doendo”, disse Lula, causando risos na plateia.

“Quando a dor de dente é no vizinho, temos todos os remédios. Mas quando é na boca da gente, não temos os remédios”, afirmou o ex-presidente.

Lula foi a primeira personalidade latino-americana a receber o título de doutor honoris causa do renomado Instituto de Estudos Políticos de Paris, mais comumente chamado de Sciences-Po, fundado em 1871 e onde já estudaram personalidades como os ex-presidentes franceses Jacques Chirac e François Mitterrand.

Europa

Em seu discurso, que durou cerca de 40 minutos, Lula também comentou a crise na Europa e criticou a falta de ação política dos líderes do bloco para resolver a situação.

“O problema que está acontecendo na Europa é que ela está precisando de decisões políticas, e não econômicas”, afirmou o ex-presidente.

“A hora não é de negar a política, e sim fortalecê-la. A hora é de exigir que os dirigentes eleitos democraticamente digam qual é sua decisão política”, disse Lula.

Há divergências entre líderes europeus sobre as medidas a ser adotadas para os países em crise na zona euro.

Para Lula, quanto mais o tempo passa, mais a crise se agrava. “A dívida da Grécia era de US$ 49 bilhões em março do ano passado. Hoje já está em mais de US$ 200 bilhões”, afirmou.

Popularidade

Lula chegou ao anfiteatro da universidade sob som de batucada, e causou alvoroço entre os estudantes, alguns deles brasileiros.

Após o fim da cerimônia, muitos tentavam burlar o esquema de segurança para tirar fotos e falar com Lula.

Na plateia, além de bandeiras do Brasil e até do Corinthians, time de Lula, havia personalidades como o ex-primeiro-ministro português José Sócrates e o sociólogo francês Alain Touraine, amigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Esse é o sétimo título de doutor honoris causa recebido por Lula e o segundo fora do Brasil (o primeiro foi em Portugal).

Na quarta-feira, Lula irá a Gdansk, na Polônia, berço do movimento sindical Solidariedade, que combateu o regime comunista nos anos 1970 e 80, e terá um jantar com o ex-presidente Lech Walesa. Na quinta-feira, ele receberá o prêmio Lech Walesa no país.

Ainda na quinta-feira, o ex-presidente viaja para Londres, onde fará uma palestra para investidores estrangeiros. Na sexta, ele participa de um seminário promovido pela revista The Economist.

Publicado originalmente por Luiz Nassif On Line

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